Nota:10
Nove anos depois de “O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei”, Peter Jackson volta a Terra-Média com o “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”, filme recebido com uma certa dose de desconfiança, primeiro por ser a primeira parte de uma trilogia baseada em um livro que é reconhecidamente mais infantil e menos épico que “O Senhor dos Anéis”, e que portanto, caberia em um único filme (segundo a opinião de algumas pessoas) e também  por ser o primeiro filme comercial lançado em HFR (High Frame Rate), formato que usa o dobro de quadros que o normal, 48 quadros por segundo, contra 24 quadros que é o padrão desde a época do inicio do cinema falado e que tem gerado duras críticas, sobre a qualidade das imagens produzidas no formato.
“O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” se passa 60 anos antes das aventuras de Frodo rumo à Montanha da Perdição para destruir o Um Anel. Ele conta a história do jovem Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) e de como ele é levado a uma aventura onde deve ajudar a recuperar o tesouro dos anões, há muito roubado por um dragão chamado Smaug. Inesperadamente convidado pelo mago Gandalf, o Cinzento (Ian Mckellen), a fazer parte da companhia de 13 anões liderados pelo lendário guerreiro Thorin, Escudo de Carvalho, Bilbo deve assumir o papel de ladrão do grupo e deixar para trás o conforto do Condado. Jackson como profundo conhecedor da obra de J.R.R. Tolkien estava ciente do caráter mais leve da história e que devido ao sucesso da Trilogia do Anel, de que mudanças deveriam ser feitas para agradar não somente aos fãs do livro, mas às pessoas que conhecem “O Senhor dos Anéis”, porém nunca leram nenhum dos livros e esperam um grande épico, portanto, ele buscou material nos apêndices de “O Retorno do Rei”, para rechear a narrativa dos novos filmes, dando um caráter mais épico a história, ainda mais porque na narrativa do livro “O Hobbit”, Tolkien apenas sugere eventos que ocorrem fora da história principal e que realmente ficam de fora da narração do livro e assim como na trilogia anterior, o diretor acerta ao desenvolver esses elementos e incluir eventos adicionais que fazem com que a história se aprofunde e o filme ganhe em grandiosidade, afinal Tolkien não descrevia tanto as batalhas e Jackson sempre aumentou o escopo delas. Desde a narrativa de Bilbo de como o dragão Smaug chegou à Erebor, A Montanha Solitária, um dos grandes reinos dos Anões, passando pela história trágica de Thorin, o filme é recheado de belas cenas, inclusive a primeira visão de Erebor em seu esplendor é de uma beleza rara. Vale a pena falar do show de efeitos visuais que é a fuga da Companhia dos Anões da cidade dos Orcs, que fica nas profundezas das Montanhas Sombrias, na verdade todo o filme é de saltar aos olhos, pois a bela fotografia e os incríveis efeitos visuais são ajudados pelo novo sistema HFR, que torna o 3D do filme mais perceptível e realista, dando foco e claridade às imagens. Apenas o povo mais purista vai sentir falta dos borrões causados pela movimentação da câmera, que é visível em filmes rodados e projetados nos usuais 24 quadros por segundo.
Apesar de todos os truques visuais, nem todo dinheiro e efeitos do mundo salvam um filme de uma história capenga, e “O Hobbit” é acima de tudo uma ótima história de aventura, que sim, talvez demore um pouco para começar, mas isso ocorre pelo único propósito de apresentar os personagens e suas motivações e uma vez que os personagens deixam a toca de Bilbo, eles adentram um mundo de pura magia e muita aventura, com elementos que tornaram a obra de Tolkien única, sendo um deles, a noção de um mundo em que as pessoas ainda tinham honra, coragem e amizade, coisas que são a força que movem os personagens principais e os destacam de seus inimigos. É reconfortante em um mundo dominado por filmes superficiais, ver um blockbuster que contém tantas mensagens edificantes sem parecer enfadonho. E mais uma vez o grande trunfo para que isso aconteça é a escolha do elenco, onde mais uma vez Ian Mckellen está perfeito como Gandalf e Martin Freeman tem uma ótima atuação como Bilbo e devido ao grande número de anões na história, Jackson se focou mais em alguns deles do que em outros, com destaque para Richard Armitage como Thorin, Aidan Turner como Kili e Dean O’Gorman como Fili. Porém, talvez a grande cereja do bolo seja a presença de Andy Serkis, magnífico como Gollum, engraçado e assustador ao mesmo tempo, em uma cena que une as duas trilogias e está entre os grandes momentos da Saga.
O filme dividiu a critica por inúmeros motivos que só existem na cabeça dos críticos, que na verdade ficam caçando milhares de razões para que o filme tivesse sido feito desse ou daquele jeito, ou que não fosse feito de maneira alguma. Na verdade, assim como as prequels de "Star Wars", a imprensa especializada caçou defeitos, apenas por caçar defeitos, mas a verdade é que se o espectador se livrar de todo esse falatório e assistir ao filme, vai encontrar muitas qualidades em um ótimo filme, cheio de ação e de um visual único. Como primeiro filme de uma nova trilogia claro que ele não é tão épico como “O Retorno do Rei” ou “As Duas Torres”, mas assim como “A Sociedade do Anel” é uma bela introdução e o sucesso comercial do filme atesta que ele encontrou seu público, independente das críticas negativas e em dezembro as pessoas estarão lá para “O Hobbit: A Desolação de Smaug” colocando um fim nas desconfianças sobre dividir em três partes um único livro, uma decisão acertada se as pessoas lembrarem que o universo criado por Tolkien é mais amplo do que muitos imaginam e que Peter Jackson é talentoso e inteligente o suficiente para realizar essa empreitada
The Hobbit: An Unexpected Journey, 2012 direção de Peter Jackson roteiro de Fran Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson e Guillermo Del Toro, baseado no romance "O Hobbit ou Lá e De Volta Outra Vez" de J.R.R. Tolkien produção de Peter Jackson, Fran Walsh e Carolynne Cunningham música de Howard Shore direção de fotografia Andrew Lesnie com Ian McKellen, Martin FReeman, Richard Armitage, Elijah Wood, Cate Blanchett, Hugo Weaving, Christopher Lee, Ian Holm e Andy Serkis como Gollum, distribuição Warner Bros., Metro-Goldwyn-Mayer e New Line Cinema. duração 169 minutos. Aventura/Fantasia.
 



 
Nenhum comentário:
Postar um comentário