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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Crítica : The MDNA World Tour

"Há apenas uma rainha e ela é a Madonna" grita Nicki Minaj ao fim de "I Don't Give A", música do novo álbum da diva do pop, MDNA, e esse fato foi comprovado em sua passagem pelo Brasil, onde fez 4 shows, um no Rio de Janeiro, dois em São Paulo e um em Porto Alegre, onde cantou para um público de mais de 200 mil pessoas. Muito se falou das exigências que ela fez, de ter fechado um hotel inteiro para o seu staff (que serviu de base para sua enorme equipe de produção) e dos atrasos, afinal Madge continua perfeccionista e o que poucos pararam para perceber é que o horário do ingresso era para o espetáculo completo, que inclui o artista que abre o show. Todas essas coisas já fazem parte do showbizz e as pessoas ainda fingem se surpreender. Apesar disso a "The MDNA World Tour" é um show grandioso que faz todas essas coisas desaparecerem da sua mente assim que a Rainha do Pop coloca os pés no palco ao som de  "Girl Gone Wild".


A tour que começou em Tel Aviv em 31 de maio, como quase todas as turnês anteriores de Madonna foi cercada de polêmicas. Isso já começou antes da estréia, quando um video com a performance de "Express Yourself/ Born This Way/ She's Not Me" caiu na internet, causando o ódio dos Little Monsters (voltamos a isso depois), passando por um processo milionário na Russia por incentivar práticas homossexuais e por seu apoio a banda de punk rock Pussy Riot, além de receber ameaças terroristas. Na França de novo houve controvérsia, pois no video de "Nobody Knows Me" a advogada e deputada francesa Marine Le Pen aparecia junto a uma imagem de uma suástica, que em Nice foi trocada por um ponto de interrogação. Além da Diva mostrar partes do corpo em diversos concertos, o que causou controvérsia, afinal ela tem 54 anos e supostamente deveria se comportar como uma velha, mas se tratando de Madonna, tudo faz parte do show e torna a coisa toda infinitamente mais divertida.


Portanto, quando a Tour chegou ao Brasil, ela já vinha com uma carga de polêmica e de expectativa,  sem falar o peso de ser um show da cantora que desde 1990, quando sua "Blond Ambition World Tour" redefiniu o mundo das turnês de musica pop, vem se impondo como um dos grandes nomes das turnês mundiais, com shows lotados e uma grandiosidade quase que imbatível. E a verdade é que Madge mais uma vez não decepcionou com seu show de luz, dança, pirotecnia, ótimas músicas e para a surpresa de muitos, simpatia. No show do dia 5 de dezembro no Morumbi, para as pessoas que chegaram cedo (como eu) e enfrentaram o sol e uma chuva rápida a tarde, a recompensa veio cedo, pois a tarde a diva subiu ao palco para fazer a passagem de som, composta de performances inteiras de diversas músicas, onde já era possível ficar impressionado com o preparo físico da cantora que ainda dança melhor e mais do que boa parte da concorrência, o que surpreendeu também foi sua simpatia, ela conversou com as pessoas, ficou emocionada com o choro de um fã, pediu para ele pular a grade para falar com ela, e agradeceu pelas "Lágrimas que não posso chorar" e inclusive distribuiu lenços de papel para as pessoas em frente ao palco. Após cobrar da platéia de que cantariam todas as músicas e ensaiar "Celebration" ela se despediu.


Nem vou entrar nos méritos do atraso que ocorreu por conta da chuva torrencial que castigou o Morumbi por cerca de uma hora, afinal uma vez que as luzes se apagaram e os sinos que precedem "Girl Gone Wild" começaram a tocar, o palco virou uma enorme catedral e qualquer lembrança da espera foi para o espaço, o público foi ao delírio  quando Madonna aos 54 anos entrou cantando e dançando como se ainda tivesse 20 anos e no mesmo nível físico dos dançarinos que provavelmente tem a metade de sua idade, e ela não parou um minuto durante as performances de "Revolver" e "Gang Bang", a última é uma das melhores partes do show, com uma performance teatral digna de filmes como "Kill Bill" e clássicos dos anos 70, inclusive durante a canção, os efeitos sonoros mostraram o nível técnico do espetáculo, que como o som digital de uma sala de cinema, fazia o som ir de um lado ao outro do estádio. "Papa Don't Preach" empolgou o público apesar de ser apenas parte de um medley com "Hung Up", que impressiona com uma performance de Slackline da cantora junto aos dançarinos e estes dois hits são favoritos entre os fãs. Ela encerrou este segmento com "I Don't Give A" uma das melhores músicas de seu álbum mais recente e que conta com a participação de Nicki Minaj, não precisa dizer que quando Minaj diz "There's Only One Queen And That's Madonna" o público gritou junto. O interlúdio com "Best Friend" ainda mostrou a destreza dos dançarinos da turnê atual, afinal a coreografia cheia de contorcionismos é um espetáculo à parte.


Madonna voltou ao palco junto com dançarinas vestidas de líderes de torcida para cantar um empolgante medley das canções "Express Yourself, Born This Way e She's Not Me, momento que causou a fúria dos Little Monters, mas que na verdade atesta a ignorância de muitas pessoas e da imprensa que cobre o show business, Madonna não odeia Lady Gaga, ela apenas se diverte com as comparações e usa as músicas de forma inteligente, descontraída e apenas atesta de que elas são pessoas diferentes, artistas diferentes (algo que alguns repórteres parecem não enxergar). Quando perguntada sobre o que achava das comparações ela apenas disse "Isto é Redutivo" (Qualquer pessoa com o minimo conhecimento de inglês saberia a diferença entre "It's Reductive" e "She's reductive"), mas a imprensa como sempre colocou lenha na fogueira dizendo que ela chamou a "rival" de redutiva, o que causou comoção e troca de ofensas entre fãs durante o ano inteiro, e o que Madonna fez? Se divertiu com isso e criou um dos momentos mais divertidos do show, onde mostrou que ambas as canções são parecidíssimas,  mas que elas são artistas muito diferentes (She's Not Me). Ela prosseguiu com uma ótima versão do hit "Give Me All Your Luvin'" com coreografia energética, com cheerleaders, uma banda que entra marchando e que acabou com um coro de "L-U-V Madonna" vindo da platéia.


Após um interlúdio com pequenos trechos de hits antigos e clipes de várias fases da cantora, ela voltou ao palco empunhando uma guitarra para tocar um dos sucessos mais recentes e também uma das melhores músicas de MDNA, com "Turn Up The Radio" ela ganhou o público de vez, que pulou e cantou a canção de maneira verdadeiramente entusiástica. "Open Your Hear" acabou sendo um dos melhores momentos do show, em uma versão que mostra o talento que Madonna tem de se adaptar a quase qualquer estilo e repaginar seus hits de formas inusitadas, junto ao Kalakan Trio, vindo do País Basco, ela mesclou a música com a composição Sagarra Jo e entre os dançarinos estava seu filho Rocco Ricthie de 12 anos. Super simpática ela parou o show por um momento e agradeceu as pessoas pela paciência, por terem aguentado firme embaixo da chuva e por não terem ido embora e presenteou o público com o clássico "Holiday", substituindo seu habitual discurso em um momento que realmente cativou o público. Logo em seguida cantou a belíssima "Masterpiece" encerrando com um coro de "Fuck The Rain."


Uma versão bacana de "Justify My Love" preparou o terreno para estrela volta a dar o ar da graça para cantar o megahit "Vogue" onde o palco se transforma em uma passarela e ela usa um bustiê que homenageia o clássico criado por Jean-Paul Gaultier para a Tour "Blond Ambition", a canção sempre foi sinônimo de requinte e nessa turnê, Madge não deixa por menos, os figurinos são belíssimos e casam perfeitamente com as imagens do telão. "Candy Shop" é a única música do álbum "Hard Candy" que entrou no set-list e com a interpolação da música "Erotica" marcou um dos momentos mais sensuais do show. "Human Nature" com sua coreografia com espelhos, terminou com um dos momentos mais divertidos da noite, quando Madonna fez um pequeno striptease, revelando uma tatuagem falsa onde estava escrito "Safadinha", a platéia foi ao delírio gritando safada entre outras coisas, inclusive essas interações com o público se mostraram bem descontraídas e ela parecia ter resolvido realmente divertir as pessoas que pagaram caro e esperaram por horas. Em um outro momento engraçado, ao ver duas meninas, uma delas vestida de noiva como o clip de "Like a Virgin", ela brincou: "Vocês são casadas? Ficaram amigas por minha causa? Posso ser amiga de vocês também? Acho que deveríamos nos casar, nós três" e ao ameaçar um pouco de espanhol, se rendeu: "Aprendi várias palavras: São Paulo, gostosa, caralho, Fernanda e Gabi (nomes das fãs com quem interagiu momentos antes)" dizendo que português é muito difícil.
 

Esse tom de diversão marcou os melhores momentos do show, pois ela deixou a seriedade a cargo de algumas canções, como o interlúdio de "Nobody Knows Me", afinal a boa música tem a capacidade de falar por si só e ajudada por uma incrível montagem de imagens projetadas nos telões, marcou um dos momentos mais bonitos do show ao mostrar os danos e as vitimas da homofobia e da intolerância em geral. Ela continuou o show com duas canções de MDNA "I'm Adicted" e "I'm a Sinner", a primeira com a estrela em um figurino inspirado em Joana D'arc, mais uma vez demonstrou seu domínio de palco e que com mais de meio século de idade, ela ainda está no auge da forma física e a segunda levou o público a uma viagem a Índia, para então vir o melhor momento da noite, com ajuda de um coral e do público ela fez uma performance memorável de "Like a Prayer" que realmente foi o momento de maior empolgação, ainda mais quando Madonna canta empunhando uma bandeira do Brasil.


O show se encerrou com uma ótima versão de "Celebration" mixada com pequenos trechos de "Give It 2 Me" e "Girl Gone Wild", Madonna e seus dançarinos não param no palco durante a canção, e era impossível não se empolgar e dançar, ainda mais quando o palco se transforma em uma gigante mesa de som e a estrela e seus dançarinos em Djs da maior festa do mundo. No fim ficou a sensação de que (com ou sem "Like a Virgin") valeu a espera, a chuva  e o dinheiro gasto, para ver a maior estrela da música de todos os tempos e uma grande performer, que empolga, diverte e mostra que seu carisma continua intacto e em momento algum é menor do que seu gigante palco ou toda a pirotecnia contida nele. Como Nicki Minaj bem disse e volto a apontar aqui :"Há Apenas Uma Rainha e Ela é Madonna."


Madonna, The MDNA World Tour 2012 -  São Paulo - 5 de dezembro de 2012, Estádio Cicero Pompeu de Toledo. Criado por Madonna, Diretor do show: Michel Laprise, Produtor Criativo: Jamie King. Co-Diretores: Richmond Talauega e Anthony Talauega, coreógrafos: Alison Faulk e Jason Young Banda Vocal principal e guitarra: Madonna diretor musical, programador e tecladista: Kevin Antunes Backing vocals: Kiley Dean baterista: Brian Fraiser-Moore tecladista e pianista: Ric'key Pageot guitarrista: Monte Pittman backing vocal: Nicki Richards vilolinista: Jason Yang. Kalakan trio - Jamixel Bereau, Thierry Biscary, and Xan Errotabehere dançarinos: Kupono Aweau, Derrell Bullock, Chaz Buzan, Emilie Capel, Andrew Boyce, Adrien Galo, Marvin Gofin, Jahzrel Henderson, Habby Jacques, Loic Mabanza, Sasha Mallory, Marion Montin, Sheik Mondesir, Stephanie Nguyen, Yaman Okur, Valeree Pohl, Ali Ramdani, Fabiano Lopes, Charles Riley, Rocco Ritchie, Emilie Schram, and Brahim Zaibat, Slackliners - Hayden Nickell and Jaan Roose. 110 minutos. Live Nation/Time4Fun.

setlist
"Gregorian Chants/Virgin Mary
"Girl Gone Wild"
"Revolver"
"Gang Bang"
"Papa Don't Preach"
"Hung Up"
"I Don't Give A"
"Best Friend" (Remix)
"Express Yourself" (contém trechos de "Born This Way" e "She's Not Me")
"Give Me All Your Luvin'" (Just Blaze Remix)
"Turning Up the Hits"
"Turn Up the Radio"
"Open Your Heart" (contém elementos de "Sagarra Jo")
"Holiday"
"Masterpiece"
"Justify My Love" (Remix) (Video Interlude)
"Vogue"
"Candy Shop"
"Human Nature"
"Nobody Knows Me" (Remix)
"I'm Addicted"
"I'm a Sinner"
"Like a Prayer"
"Celebration" (Benny Benassi Remix)

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