 
Assim como “Chefão”, o filme é uma crônica sobre a vida dentro do crime organizado, mostrando como Henry Hill (Ray Liotta) ingressa na Máfia, acompanhando sua ascenção e sua queda, ao mesmo tempo em que mostra sua relação com o Chefão Paul Cicero (Paul Sorvino) e com os gangsters Jimmy Conway (Robert DeNiro) e Tommy De Vito (Joe Pesci, no papel que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), além de acompanhar os altos e baixos do seu casamento com Karen (Lorraine Bracco), sua esposa que no começo desconhece suas atividades, mas no fim acaba sendo conivente e participando.
O que destaca o filme da maioria dos filmes sobre o assunto, além do roteiro de Nicholas Pileggi (que contou com a ajuda do próprio Hill) e do diretor, é a carga de realismo que Scorcese trouxe para o projeto, afinal como cresceu em Little Italy, bairro de Nova York, o diretor cresceu vendo a Máfia dominando seu bairro, ele viu em primeira mão, algo que muitos diretores apenas imaginam, e o filme é permeado por esses pequenos flashs que vêm exatamente das lembranças do diretor, como Hill ainda na infância admirando os mafiosos da janela, querendo viver essa vida, ao ver como os gangsters eram temidos e respeitados no bairro.
 
Martin Scorcese também tem um talento raro de conseguir jogar a platéia dentro da época em que seus filmes se passam, com o uso de uma trilha sonora impecável e também ao mostra detalhes de como esse mundo funciona, sua camera passeia pelas cenas, mostrando detalhes que as tornam mais realistas, e esse é o grande trunfo de “Os Bons Companheiros” de levar o espectador para dentro desse mundo fechado, onde as pessoas que o habitam contam apenas com aqueles que já estão nele, as esposas só convivem entre elas e os maridos apenas com as pessoas que participam do “trabalho”, seja um roubo, seja tráfico de drogas, é um mundo fechado para a sociedade, onde tudo se baseia na tênue confiança e nas alianças que são feitas e que de uma hora para outra podem acabar.
Como apenas as imagens não sustentam um filme, Scorcese conta com um time de grandes atores no topo de sua forma, Ray Liotta e Lorraine Bracco nunca mais conseguiram desempenhos tão formidáveis como aqui, você sente a quimica explosiva entre eles, Robert DeNiro em um papel menor, garante a credibilidade do filme, em uma de suas melhores atuações, seu personagem gravita entre a amabilidade, a paranóia e explosões de violência, e assim como o de Joe Pesci, de um momento para outro explode, sem misericórdia, Pesci inclusive ganhou o Oscar por esse papel, que definiu sua persona no cinema, em que seu diminuto tamanho, não o impede de cometer atos de extrema violência, por mais que ele seja lembrado pelo Leo Getz da série Máquina Mortífera (Lethal Weapon, 1987, 89, 92. 98), é por esse papel que ele veio a ser respeitado como o grande ator que ele é.
 
O filme recebeu 6 indicações para o prêmio da Academia de Artes Cinematográficas, vencendo apenas um, foi derrotado por “Dança Com Lobos”(Dances With Wolves, 1990) mas nem por isso ele perdeu seu prestigio, pelo contrário, sua importância apenas cresceu, sendo selecionado para preservação, pela Bibilioteca do Congresso Americano, por ser considerado um filme históricamente relevante. Também recebeu 6 Baftas (O prêmio da Academia de Cinema Britânica), incluindo melhor filme e direção, o Leão de Prata de melhor diretor no Festival de Veneza, o César do cinema francês de melhor filme estrangeiro, entre outras honrarias.
Hoje em dia é considerado um clássico do cinema moderno, e com toda justiça, pois é um filme único, forte e violento, de um diretor que faz cinema de primeira, com um elenco no topo de sua forma e onde cada cena é planejada com precisão, com movimentos de câmera que impressionam, mas não distraem sua atenção da narrativa, a edição é acelerada, mas nunca confusa e a trilha sonora tem a função de ajudar a contar e situar a história, usando cerca de 30 anos de clássicos do pop e do rock. Um filme para quem gosta de cinema de verdade, e não video clipes feitos para multiplexes, que vinte anos depois de ter sido lançado não perdeu sua força ou relevância.
Goodfellas, 1990. direção de Martin Scorcese roteiro de Nicholas Pileggi e Martin Scorcese produzido por Irvin Winkler editado por Thelma Schoonmaker direção de fotografia Michael Ballhaus com Robert DeNiro, Ray Liotta, Joe Pesci, Paul Sorvino, Lorraine Bracco, Samuel L. Jackson, Catherine Scorcese. distribuição Warner Bros. 146 minutos. Drama/Policial
 

 
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