Nota:1,0

Há filmes que assistimos e ficamos impressionados, geralmente porque ou são muito bons ou muito ruins, alguns filmes transcendem aquilo que nós achávamos que seria possivel ser mostrado em um filme. "Amanhecer-Parte 1", o novo capítulo da "Saga" Crepúsculo é um desses filmes, e isso não é um elogio. até hoje nunca entendi muito bem o fascínio que as pessoas tem pela obra de Stephanie Meyer e principalmente pelas versões cinematográficas de seus livros, as pessoas falam como se ela tivesse inventado a roda ou algo do tipo, quando na verdade ela apenas pegou uma história muito batida e tentou (com enfase no verbo tentar) dar uma nova roupagem as lendas, afinal essa história de vampiro que se apaixona por uma mortal não é novidade desde que Bram Stoker escreveu "Drácula" no século 19, mas mesmo assim o romance de Edward Cullen e Bella Swan se tornou um fenômeno de vendas e de bilheteria, tanto é que o último livro acabou sendo dividido em dois filmes e é ai que chegamos a "Amanhecer-Parte 1."
No novo filme Edward Cullen (Robert Pattinson) e Bella Swan (Kristen Stewart) casam-se e passam a lua de mel no Rio de Janeiro (OMG), onde Bella descobre que está grávida. Ao decidir levar a gravidez adiante, Bella coloca em risco a vida da familia Cullen e tem que contar com a ajuda do seu amigo Jacob (Taylor Lautner). O incrível é que esse fiapo de história é esticado por 117 minutos,  que parecem uma eternidade, principalmente no terço inicial do filme.

Falar da atuação do trio principal é a mesma coisa que procurar profundidade em um filme do Adam Sandler, não existe e nem sei se a culpa é do elenco, acho que na verdade a culpa é dos personagens que em sua concepção, são criaturas sem vida, sem lógica, sem razão de existir, então pedir pra qualquer ator injetar o minimo de profundidade é pedir demais. Robert Pattinson está um pouco menos insosso como Edward, até esboçando uma ponta de carisma aqui e ali, mas a verdade é que ele e Kristen Stewart, como Bella, não tem quimica alguma, na verdade ela parece bem mais a vontade com Taylor Lautner, pois eles tem cenas melhores juntos, afinal é muito mais fácil gostar do Jacob, que apesar de sofrer e se irritar com a Bella (sim ela é a protagonista mais estúpida e irritante desde... sempre) não fica parado, ele é o cara da ação, enquanto Edward está eternamente preso ao papel de vampiro romântico da novela das seis.
O filme na verdade não consegue resolver a contento nada do que propõe, a começar pelo aguardado casamento, ele não tem a pompa necessária e tão pouco o romantismo, na verdade Bella parece que está indo pra forca, ela não aparenta nervosismo ou indecisão, ela aparenta pavor, como diria o Coronel Kurtz: O Horror!! Robert Pattinson até tenta, ele está extremamente simpático na cena, presumo que qualquer garota gostaria de se casar com ele, mas Kirsten Stewart parece que está enfrentando um pelotão de fuzilamento. A Lua de Mel consegue ser a pior da história do cinema, com Edward e Bella no Rio de Janeiro mais cliché do que nunca, com gente se agarrando nas ruas (sim, brasileiros sensualizam o tempo todo) ao som de um sambinha genérico e Pattinson arranhando um português medonho, sem falar que as cenas de "amor" são gélidas e depois de literalmente quebrarem a cama e Bella ganhar uns hematomas, Edward decide que não vai fazer amor com ela de novo e o que se segue é uma infinidade de cenas onde eles jogam Xadrez e Bella usa todos os clichês pra tentar seduzi-lo (só faltaram as velas aromáticas, porque de resto... faltou também tentar o Funk do Quero Dar, Quero Dar), mas no final ela consegue e eis que surge uma gravidez inesperada e de alto risco que domina a segunda parte do filme, com cenas infinitamente tediosas com os personagens tentando convencer Bella a fazer um aborto e ela se negando (jogada no sofá em uma maquiagem que parece o Michael Jackson em seus piores dias), nem vou estragar as supresas do desfecho, mas o que se segue é um festival de bizarrices que culmina com a cena de amor a primeira vista mais bizarra de todos os tempos, que leva o termo "pegar para criar" a outro patamar.

Ao contrário de "Eclipse" (o melhor filme da série até agora) não há nada que possa ser salvo nesse filme, onde mais uma vez (como em "Sem Saída") o auge do filme é Taylor Lautner sem camisa, mas como é nos primeiros minutos de filme, fica muito dificil perdoar o resto. Não sei, talvez eu tenha visto filmes demais na minha vida, incluindo ótimos filmes de vampiro como Nosferatu, Drácula de Bram Stoker, Fome de Viver, Os Garotos Perdidos, Entrevista Com O Vampiro, até bons filmes mais recentes como Guardiões da Noite e sua continuação, Guardiões do Dia, Underworld - Anjos da Noite, 30 dias de Noite, A Hora do Espanto, filmes que não ignoram o fato de que vampiros podem até amar, mas no fundo eles são predadores, eles são puro desejo, seja de matar, seja sexual ou de poder, eles tem sede de sangue. Drácula amava Mina, mas não pensou duas vezes ao matar sua melhor amiga, ou ao tentar destruir seu noivo e até de vampirizar a própria Mina, ele resiste um pouco, mas por fim a transforma em um ser da noite. Lestat não pensa meio segundo ao vampirizar Louis e aterrorizar Nova Orleans em "Entrevista Com o Vampiro" e debocha de Louis por querer poupar vidas, apontando a verdadeira natureza de um vampiro, mas Stephanie Meyer retira todo o desejo, toda a sede de Edward, ele seria bem mais interessante se realmente oferecesse perigo a Bella, se realmente fosse permitido a ele ser um predador, alguém que para amar tivesse que lutar de verdade contra seus instintos, mas não, Crepúsculo é uma série de filmes sanitizados para agradar uma platéia extremamente conservadora, na maioria adolescentes ou pessoas que se acham sonhadoras (carentes??), que atura uma mocinha submissa, que faz coisas absurdas para estar com um homem, certamente nos anos 60 Bella seria incendiada junto com os sutiãs das feministas, e a série faz propaganda da abstinência sexual para sua platéia de adolescentes, inclusive a gravidez dela parece gritar:"Quando você faz sexo na adolescência, coisas horriveis acontecem".

O que realmente me surpreende é que o filme foi dirigido por Bill Condon, dos maravilhosos "Deuses e Monstros" e "Kinsey", apesar de ele ter dirigido o apenas bom "Dreamgirls", acho que talvez ele tenha abraçado a idéia de que é necessário fazer filmes mainstream, filmes de grande apelo, para continuar fazendo projetos mais arrojados, ou talvez seja apenas reflexo dos tempos onde tudo tem que ser politicamente correto e embelezado, e até  diretores como Condon, que fez filmes sobre liberdade e sexualidade tem que se enquadrar no sistema para continuar na ativa, não sei, talvez seja o dinheiro, afinal ninguém está tão acima dele assim, mas a verdade é que ele realizou um filme parado, mal estruturado, que mesmo sendo a primeira parte de dois filmes, não leva a trama muito longe, afinal na maior parte do tempo nada acontece e as cenas sérias se tornaram involuntariamente engraçadas, os momentos de ação são poucos e péssimamente filmados, a cena de luta entre vampiros e lobos é confusa e mal filmada, mostrando a falta de experiência do diretor em lidar com efeitos visuais (risiveis) e com cenas de ação.
Breaking Dawn - Part 1. direção de Bill Condon roteiro de Melissa Rosenberg baseado no romance de Stephanie Meyer produção Wyck Godfrey, Karen Rosenfelt e Stephanie Meyer musica Carter Burwell com Robert Pattinson, Kristen Stewart, Taylor Lautner, Peter Fancinelli. distribuição Summit Entertainment. duração 117 minutos. Romance.
 
 
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